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Angústia

Tenho pensado todos os dias em acabar com o meu "eu virtual".

Com essa imagem que criei nas redes sociais. Não sei exatamente o que esse é "eu". Confesso. Uso redes sociais desde a metade da minha adolescência, e antes parecia que eu me expressava, que dizia o que sentia, que mostrava o que gostava de ser. Sentia que era algo próximo de mim.


Hoje, não sei o que me tornei. Não sei o que meus amigos veem em mim, nem o que pensam sobre mim. É muito mais confuso do que estar em um escritório, com pessoas te olhando, reagindo — as microexpressões, os movimentos corporais, principalmente os involuntários. Aqui, eu não vejo. Não vejo você. No máximo, te leio, às vezes te escuto, e muito, muito raramente, te vejo diante de uma câmera. Nada mais.


As palavras escritas são medidas, pensadas. Mesmo quando há urgência em se expressar, num fluxo rápido, a gente acaba se corrigindo, se controlando.


Sinto falta de ver seu rosto.

Sinto falta de ver rostos.


A sensação é que hoje esse "eu virtual" saiu do controle. Nem sei contar o número de desentendimentos que tive nos últimos anos. E agora, quando releio o que me disseram, quando tento entender por que disseram aquilo... a pergunta surge: com quem essa pessoa está falando?


O que ela está vendo em mim para dizer essas coisas? Esse não sou eu. Eu não era essa pessoa quando convivíamos fisicamente. Ela não me via assim, não me julgava assim. De repente, a distância me colocou nesse lugar em que me transformei em todos os impasses simbólicos dessa pessoa. Nos tornamos rapidamente o símbolo da frustração alheia.


Eu sei, é óbvio dizer que as pessoas veem o que querem ver, que raramente conseguem ver quem somos. E não vivo a ilusão de pensar que sei exatamente que sou. Mas antes, quando alguém brigava comigo, eu sentia que era comigo. Era de mim que falavam, e eu tinha certeza de que, de alguma forma, dei as razões. Sentia que era justo.


Hoje, sinto que falam de um "eu" que não sei de onde surgiu. Uma ideia de Caetano que não faço a mínima ideia de como nasceu.


Quando estou com meus amigos, fisicamente, tudo é sincero, mais claro. As piadas funcionam. Meu senso de humor destrutivo é acolhido com compaixão. Terminamos sempre rindo e nos amando. Mas através desse dispositivo, sinto que sou tratado como um outro. Como alguém que não sou eu. E imagino que também vejo meus amigos dessa forma. Distorcidos, ao ponde de dizer o quanto é indescritível a raiva que tenho sentido de tudo e de todos. Como uma simples opinião vira algo enorme, abrasivo, que me corrói até eu dizer: pare, Caetano. Somente pare.


Começo a entender o que querem dizer com a ideia de que estamos vivendo tempos esquizofrênicos.


Então, decidi escrever esse texto. Para dizer que eu, o "eu não-virtual", continuo vivo. Cheio de alegria, de amor, de vontade de estar com as pessoas que amo. Quero ser visto por elas pelo que realmente sou — não por esse ser virtual do qual não tenho nenhum entendiment oda sua forma.


Talvez falte pouco tempo para ele.

E se por acaso você encontrar seu cadáver por aí, saiba: fui eu mesmo o autor.


 

Caetano Grippo (@caetano.grippo) é cineasta, escritor, artista plástico e coordenador do Espaço Rasgo. Formado pela Academia Internacional de Cinema e pela Belas Artes, acumula quase duas décadas de experiência como artista multidisciplinar.

 
 
 

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