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Alfred Hitchcock e as músicas de Bernard Herrmann

Atualizado: 15 de ago. de 2022



Bernard Herrmann, o homem que sabia demais.


É impossível pensar no filme “Psicose” (1960), de Alfred Hitchcock, e não se lembrar da cena do assassinato no chuveiro – e, claro, da música que a conduz. O quanto dessa cena não seria perdida se não houvesse o dissonante conjunto de cordas que parece nos cortar cada vez mais profundamente, como a faca corta a personagem? Pois essa combinação perfeita, que resultou em uma das cenas mais icônicas do cinema, quase não aconteceu: Hitchcock a havia imaginado sem música. Bernard Herrmann, contudo, foi corajoso o suficiente para o contrariar e assim desenvolver a marcante trilha musical que resultou na obra de arte que hoje todos conhecemos.


Muito antes do encontro com o grande mestre do suspense, Bernard Herrmann já se destacava como compositor. Filho de imigrantes judeus, Hermann nasceu em Nova Iorque, em 1911, e com apenas 13 anos ganhou seu primeiro prêmio de composição. Foi aluno de renomados compositores em sua passagem pela NYU até ingressar na Juilliard School, célebre escola de artes dos EUA. Assim, sua carreira no universo do cinema já se inicia nas alturas: a primeira trilha sonora que desenvolve é a de “Cidadão Kane'' (1941), filme revolucionário de Orson Welles, e não demorou muito para que Herrmann se tornasse um compositor reverenciado e se unisse em parceria com Hitchcock. Juntos, fizeram mais de 8 filmes.


Alfred Hitchcock sempre entendeu o papel fundamental que as trilhas possuíam nas obras cinematográficas, mesmo no início do cinema sonoro, quando o papel da música ainda era incerto. Hitchcock afirmava: "A base do apelo do cinema é emocional. O apelo da música, em grande medida, também é emocional. Negligenciar a música, eu acho, é renunciar, deliberadamente ou não, à oportunidade de progresso na realização cinematográfica." (entrevista a Stephen Watts para a publicação "Cinema Quarterly", edição de inverno de 1933-1934).


O que seria do cinema intrigante de Hitchcock sem as trilhas sonoras? Hoje, é possível avaliar o impacto que elas tiveram em sua obra - a música virou uma personalidade em seus filmes. Se você prestar atenção na peça de abertura de “Intriga Internacional” (1959), por exemplo, notará que Hermann desenha as variações que ocorrem na narrativa por meio de movimentações e modificações sonoras que acompanham a trama. Quando dois mestres se unem, o cinema revela sua potência e todos os detalhes ganham corpo e sentido.


Hitchcock, mesmo sendo o imponente ícone que era, deixou Herrmann assumir o protagonismo por um breve momento em “O Homem que Sabia Demais'' (1956) ao interpretar o regente da orquestra em uma das mais emblemáticas cenas do filme. Bernard Herrmann era, de fato, um ‘homem que sabia demais’: compunha magistralmente, entendia tudo da técnica composicional, captava o clima que os diretores queriam criar e permitia que o espectador fosse levado pelo enredo através da trilha sonora. Não é à toa que o compositor leva ainda "Taxi Driver” (1976) e “Um Corpo que Cai” (1958) em seu currículo. Minuciosas, suas músicas davam vida a ambientes e personagens, regiam os acontecimentos da trama e se movimentavam no mesmo compasso que os espectadores, deixando um legado de maestria que se mantém até os dias atuais.


Para Hermann, a música era a narrativa; para Hitchcock, a narrativa era a música; para os dois, o cinema era melodia. Entender a parceria entre Hermann e Hitchcock é entender a essência do cinema.


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