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Foto do escritorCaetano Grippo

Crítica: Joker: Delírio a Dois

Joker 2" não é apenas uma continuação; é uma ousada subversão das expectativas que reconfigura o universo do personagem e desafia o público a repensar suas relações com a arte. Enquanto o primeiro filme já gerava desconforto ao explorar as fragilidades de um indivíduo marginalizado, sua sequência vai além ao abraçar o formato do musical, um gênero muitas vezes associado a escapismo e fantasia. Essa escolha coloca em evidência questões sobre o papel do cinema como provocador social e artístico.


O filme caminha na contramão da fórmula segura que domina o cinema comercial, especialmente nas produções de grandes estúdios. Ao se distanciar do universo tradicional dos super-heróis – frequentemente criticado por sua superficialidade narrativa –, "Joker 2" desmantela a ideia de que esses filmes precisam ser apenas entretenimento leve. Todd Phillips rejeita o “conforto geek” e usa o musical para explorar a decadência emocional e social do protagonista, criando um contraste entre a grandiosidade do formato e a miséria da trama.


A relação do público com "Joker 2" reflete um dilema maior sobre como consumimos arte hoje. Muitos espectadores abordam filmes de maneira imediatista, avaliando-os apenas pelo "gostar ou não gostar". Essa visão é imatura e reducionista, pois ignora as camadas mais profundas que uma obra pode oferecer. No caso deste filme, o incômodo gerado – seja pela violência implícita ou pelo tom propositalmente desconfortável das músicas e cenas


Enquanto o primeiro filme foi acusado de romantizar o caos e alimentar discursos extremistas, a sequência traz um contrabalanço crítico, questionando a glamorização de figuras como o Coringa. O protagonista, antes visto como um anti-herói revolucionário, agora é apresentado como alguém profundamente marcado pelo sofrimento e pela tentativa de escapar de uma realidade insuportável. A narrativa expõe o preço dessa fuga, revelando um universo esquizofrênico e autodestrutivo que, paradoxalmente, ecoa nossas próprias ansiedades contemporâneas. Essa abordagem dialoga com uma tendência crescente no cinema: o abandono do risco em prol de produções padronizadas. "Joker 2" quebra essa lógica ao adotar um formato que provoca e desconstrói. Como mencionado, ele dialoga com obras como "Dançando no Escuro", de Lars von Trier, ao usar o musical para explorar temas sombrios, transformando a fantasia em um veículo de crítica. Aqui, o sonho de Hollywood – de protagonismo, grandiosidade e fuga – é colocado em xeque.


O filme levanta questões sobre nossa cultura atual. Vivemos em uma sociedade que frequentemente evita confrontos ou incômodos, como exemplificado pelo uso de "avisos de gatilho" em obras de arte. Esse excesso de zelo cria um ambiente onde é difícil para a arte provocar ou desafiar. "Joker 2" não pede licença para incomodar; ele simplesmente o faz, expondo o desconforto humano e social de forma visceral. Em meio a uma indústria cada vez mais dominada por algoritmos e decisões mercadológicas, "Joker 2" se destaca como um raro exemplo de risco autoral. Phillips usa o Coringa para desconstruir a lógica de super-heróis como figuras simplistas de salvação ou caos. Ele coloca o personagem em um espaço onde não há heróis ou vilões, apenas seres humanos enfrentando sua própria decadência.


"Joker 2" nos permite refletir sobre como consumimos e entendemos arte. É um filme que se recusa a entregar respostas fáceis, preferindo explorar a complexidade do mal-estar humano. Talvez a maior provocação de "Joker 2" esteja em sua capacidade de nos fazer sentir desconfortáveis – não apenas com o filme, mas com o mundo que ele reflete. Se o primeiro filme gerava debates intensos, esta sequência expande ainda mais o diálogo, consolidando-se como uma obra de relevância cultural e artística em tempos de conformismo cinematográfico.



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