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Jackie Kong e o cinema de horror nos anos 80

Atualizado: 15 de ago. de 2022



Eu aposto que quando o termo “filme de horror dos anos 80” surge em alguma conversa, uma imagem instantânea surge em sua mente. Provavelmente ela deve se aproximar de um monstro estranho, com cabelos volumosos demais, uma maquiagem rudimentar e efeitos visuais que, incríveis para a época, já são um tanto ultrapassados para os dias atuais. Você pode nunca ter parado para assistir um filme desses, mas essa imagem existe e se instaurou em algum lugar do seu imaginário. E eu dobro essa aposta ao falar que muito do que você imagina veio dos filmes de Jackie Kong.


Kong nasceu em junho de 1957, na Califórnia, EUA, e se mudou para Hollywood durante a adolescência, para que sua mãe, uma cinéfila sem precedentes, pudesse tentar seguir sua carreira como atriz. Ganhou sua primeira câmera 16mm no seu aniversário de dezoito anos e, logo depois, já ingressou na California State University Northridge. Aos 19 anos conheceu o produtor e diretor Bill Osco – com quem deu início aos trabalhos em sets de filmagem e pôde assim aprender mais sobre o mundo do cinema.


Em 1983, com apenas 26 anos, Kong dirige seu primeiro longa-metragem, intitulado “A Noite do Medo” (em inglês, “The Being”), produzido por Osco. Nele, o detetive Lutz investiga estranhos acontecimentos que se abateram sobre a pequena cidade de Pottsville, Idaho. Ao perceber que está recebendo resistência do prefeito, contrata Gordon Jones, um engenheiro de segurança química, para investigar também. As únicas pistas para os eventos misteriosos são poças de gosma verde que são encontradas nas cenas dos crimes. Como muitos filmes de horror dos anos 80, especialmente os que possuem monstros sobrenaturais, “A Noite do Medo” segue um caminho definido, tanto narrativa quanto esteticamente. Não que isso o deprecie, pelo contrário: o torna um ótimo modelo para o gênero e potente candidato a formador do imaginário popular.


“Patrulha Noturna” (“Night Patrol”, 1985) é seu próximo filme a atingir as salas de cinema. Logo após sua estreia na direção, lança um filme de comédia onde um policial é transferido para a patrulha noturna ao mesmo tempo em que tenta mudar de carreira e virar comediante stand-up. O filme rendeu a atriz Linda Blair o Prêmio Razzie de Pior Atriz daquele ano. Sobre dirigir comédias, Kong relatou em uma entrevista que achou muito mais difícil do que dirigir filmes de horror. Segundo ela, "há algo sobre colocar todos em maquiagem e fantasias e criar uma hiper-realidade, isso é muito mais divertido”.

Dois anos depois, em 1987, dirige seu terceiro longa, onde une o horror e a comédia: “Um Jantar Sangrento”, mais conhecido por seu título original de “Blood Diner”. O filme conta a história de dois irmãos que, ao ressuscitarem seu falecido tio, recebem a missão de acordar uma antiga deusa egípcia, mas para isso devem alimentá-la com um banquete de mulheres. O filme renovou o gênero do horror ao combinar elementos do slasher, do cinema exploitation, do gore e da comédia, criando algo novo, um subgênero diferente de tudo o que vinha sendo feito nas últimas décadas. Nele, a diretora consegue juntar toda a sua experiência em horror e em comédia para criar uma narrativa delirante e dona de um visual único que, somados à irreverência e à criatividade da diretora, fazem do filme um símbolo e marco do status "cult".



Em 2016 Jackie Kong ganhou o Etheria Inspiration Award, prêmio concedido a pessoas que inspiraram mulheres a escreverem e dirigirem filmes de gênero e para TV. Algumas da mulheres que já receberam esse prêmio anteriormente incluem Jennifer Lynch (“The Walking Dead”) e Mary Lambert (“Cemitério Maldito”).


É inegável o tamanho da contribuição de Jackie Kong não só ao gênero do horror como também a todas as mulheres que estão à frente de alguma produção audiovisual, um meio ainda muito masculino - seja na produção, na escrita de roteiros, na direção ou em todos os outros departamentos. E, por mais que seus filmes não sejam tão elegantes quando comparados ao cinema clássico, sabe-se que Jackie Kong nunca teve essa pretensão. Seus filmes são o que são, foram concebidos dessa forma, se encaixam perfeitamente no gênero do qual foram fundadores e exigem, assim, um espectador que não espere algo que não componha essa sua essência.


***

Rafaela Germano, professora do curso "Cinema de Horror e Monstruosidade Feminina", é Cineasta, artista visual e pesquisadora. Graduada em Cinema e Audiovisual pela UFES e mestranda de Comunicação pela UFPE. Realiza pesquisas sobre Cinema de Horror sob a perspectiva feminista, tendo criado o site “Mulheres no Horror”.



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