Motivos para odiar Anora
- Caetano Grippo
- 10 de mar.
- 2 min de leitura

O filme "Anora" acaba de conquistar o Oscar de Melhor Filme, e os cidadãos de bem (título não mais exclusivo ao público direitista) estão em polvorosa. Entre os mais indignados está Flora, que, de terço em punho e olhos fixos na janela à espera do marido (que "atrasou" no trabalho pela 12ª vez este mês), desfere:
— "Lugar de prostituta é no prostíbulo, não na telona do cinema de arte! Cadê as histórias de família tradicional?".
Não bastasse a revolta dos bons costumes, surge um think tank de LinkedIn para defender a tese: "Trabalho cura tudo!". — "Quem é essa Anora pra questionar o hustle culture? Laços afetivos? Família? Fofoca! Basta trabalhar 14 horas por dia e saber economizar o salário mínimo que a vida se ajeita!" — berra um perfil anônimo, enquanto o soundtrack de fundo é o barulho de um pacote de sertralina sendo aberto com força, seguido pelo clique de um comprimido de Zolpidem caindo no chão.
Já os puritanos de ouvido sensível reclamam dos palavrões do filme: "Meus tímpanos são de veludo! Preferia ouvir o narrador da TNT gritando 'GOOOOOOL'. (Exceção feita ao Enzo, que, de headset gamer no ouvido, suspira pelo Manchester City e por guardanapos sujos de cream cheese).
E claro, não falta a comparação nostálgica: "No final de Uma Linda Mulher, o Richard Gere salva a Julia Roberts do tráfico humano com um casamento! Cadê o romantismo moderno?". Enquanto isso, Marta, influenciadora de hashtags fast-food, posta um stories com filtro de neve: "O filme é russofobia pura! #SomosTodosRussos
Por fim, a cereja do absurdo: "A Academia é etarista!", gritam teóricos da conspiração. "Helen Mirren não ganhou com 60 anos! Frances McDormand? 62! Mentira! Michelle Yeoh? Era uma adolescente. Tudo fake news da NASA para sabotar a Demi Moore!".
E assim, entre terços, sertralina e hashtags, o Oscar prova que, mais que premiar filmes, é um espelho torto — e hilário — da nosso tempo.
Nota da edição: Nenhum Enzo foi ferido na produção deste texto. Já os moralistas, continuam aguardando o pai de família voltar do trabalho.
Russofobia é foda kkkkkkkk