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O espaço cênico de Dogville

Atualizado: 15 de ago. de 2022



DOGVILLE

Ano: 2003

Direção: Lars von Trier

IMDb: 8,0


Dogville é um filme não usual. A estranheza se dá à primeira vista, quando percebemos que seu espaço cênico é uma espécie de mapa, composto por plantas baixas minimalistas marcando ruas e residências: as paredes são linhas brancas pintadas em um chão escuro, onde atores aparecem inseridos. Lars von Trier desconstrói o esperado de um espaço fílmico com Dogville, expandindo as possibilidades dentro do universo cinematográfico.



Dogville narra a história de Grace, uma misteriosa mulher que se refugia em uma pequena cidade dos Estados Unidos. Os habitantes aceitam acolhê-la e, em troca, ela trabalha para eles. Contudo, à medida que o filme avança, a tensão cresce e a situação de Grace como forasteira provoca o desprezo e abuso dos moradores.


O espaço fílmico de Dogville é definido pelo imaginário, isso é, depende do espectador completá-lo em sua mente e criar a realidade do espaço. É necessário imaginar o cenário a partir dos gestos dos atores - quando eles abrem portas, é possível ouvir o barulho, mas não há portas reais. Existe, aqui, a proposta de uma cenografia teatral, que sugere que os objetos em cena dependam dos atores para simplesmente "funcionar", e da mente de quem assiste para criar um senso de real.



O cinema, por sua vez, sempre se voltou para a construção do real, mesmo que ficcionalmente. Contudo, isso não é mais uma realidade, visto que a própria noção de realidade mudou. Seguindo isso, Lars von Trier subverte a noção de espaço fílmico, que geralmente é tão ligada com o realismo e, com isso, cria nos espectadores uma apatia (que é sentida pela personagem Grace), o que só aumenta a tensão psicológica que o filme propõe. Tudo ali é fingimento - todos os gestos são apenas simulados, mas os espectadores aceitam e entendem tudo que se passa em tela como uma verdade.


Dogville subverte tudo que é esperado - não coloca efeitos especiais, não tem trilha sonora, substitui o naturalismo pelo corpo do ator e usa convenções teatrais que fogem da "ilusão de realidade" que o cinema tanto gosta de explorar. Com isso, Lars von Trier abre uma discussão do que é cinema e do que é a realidade - tudo a partir da construção de um diferente espaço fílmico.



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