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Quem é esse tal de David Lynch? Manual básico para conhecer o artista.

Foto do escritor: Caetano GrippoCaetano Grippo

Episódio especial do Podcast "Corta Para"

Recebi mensagens de diversos amigos dizendo que haviam se lembrando de mim ao saber da morte de David Lynch. Na maioria das mensagens estava escrito: "não sei quem é. Mas sei que ele é muito importante para você." Outros diziam: é impossível te conhecer e não saber quem David Lynch é.

É verdade. Faço muita questão de dizer sempre como sou afetado com seu trabalho. Seja no cinema, na pintura ou na música. Baseado nisso, preparei um manual básico para quem não conhece Lynch, para saber um pouco sobre o artista plástico, músico e genial cineasta que ele foi.




LYNCH NO CINEMA (e na Televisão)


Lynch não era um cineasta prolífico. Sempre houve grandes intervalos entre suas produções cinematográficas, embora ele estivesse constantemente experimentando com videoarte ou criando curtas-metragens que atormentam nosso sono.


Podemos dizer que ele dirigiu, aproximadamente, dez filmes ao longo de cinquenta anos de carreira. Esse número pode parecer modesto se comparado a diretores que produzem quarenta ou sessenta filmes em um período semelhante. No entanto, a verdade é que Lynch sempre dividiu seu tempo entre o cinema, a televisão, a pintura, a gravura e a música.


Se você deseja começar a explorar sua filmografia, eu recomendaria começar por um de seus filmes mais acessíveis. Digo "acessível" porque, embora seja claramente uma obra de David Lynch, a trama é mais linear e compreensível. Assim, é mais fácil acompanhar a narrativa sem nos perdermos nos labirintos fantasmagóricos que ele costuma criar.

Veludo Azul
Veludo Azul

Veludo Azul parece ser o melhor ponto de partida para adentrar o universo lynchiano. A trama começa com Jeffrey Beaumont, um jovem universitário que retorna à sua cidade natal após seu pai sofrer um derrame. Durante um passeio, ele encontra uma orelha humana decepada em um terreno baldio, o que o leva a investigar o mistério por trás do macabro achado. Com a ajuda de Sandy, filha de um detetive local, Jeffrey descobre a existência de Dorothy Vallens, uma misteriosa cantora de boate, e se envolve em um mundo de perversões, violência e obsessão, dominado pelo sádico Frank Booth, um criminoso psicopata que mantém Dorothy sob seu controle.


Parece leve, não é? Bom, David Lynch está longe de ser leve. Quando você embarcar nessa jornada, prepare-se: muita coisa pode mexer com o lado escuro da sua psique. Ainda assim, Veludo Azul consegue satisfazer quem busca uma narrativa mais linear. Outra opção seria O Homem Elefante, mas, pessoalmente, começaria com Veludo Azul.


Após essa experiência, você pode começar a se aventurar mais profundamente no universo de Lynch. Sugiro dois filmes para continuar:



Coração Selvagem
Coração Selvagem

Coração Selvagem, que mistura humor, perversão e violência, é uma escolha fascinante. A história acompanha Sailor Ripley e Lula Fortune, dois jovens apaixonados que desafiam convenções e fogem pelo sul dos Estados Unidos. Eles tentam viver sua paixão intensa enquanto enfrentam uma série de personagens bizarros, incluindo Marietta, a mãe manipuladora de Lula, que fará de tudo para separá-los.


Mas, se você estiver pronto para algo mais desafiador, encare Estrada Perdida. É um dos filmes mais confusos de Lynch, com uma narrativa fragmentada e cheia de simbolismos. Após assistir a Veludo Azul, talvez você já esteja emocionalmente preparado para esse mergulho no desconforto. O filme segue Fred Madison, um saxofonista que vive em um casamento tenso com sua esposa, Renee. Após receber misteriosas fitas de vídeo que documentam o interior de sua casa e, eventualmente, um crime brutal, Fred é acusado de assassinato e enviado para a prisão.


Estrada Perdida
Estrada Perdida

Por fim, quando estiver pronto, chegue à obra-prima de Lynch: Cidade dos Sonhos. Considero este um dos maiores filmes da história do cinema. A trama começa com Betty Elms, uma jovem aspirante a atriz que chega a Hollywood em busca de sucesso. Lá, ela encontra Rita, uma mulher amnésica que sofreu um acidente na sinuosa Mulholland Drive. Juntas, elas tentam desvendar o mistério da identidade de Rita, mas a linha entre sonho e realidade começa a se dissolver, levando o espectador a uma jornada perturbadora pelos desejos, ambições e culpas humanas.


Cidade dos Sonhos - Mulholland Drive
Cidade dos Sonhos - Mulholland Drive

Além de seus filmes, Lynch também é reconhecido por seu trabalho na televisão, especialmente a série Twin Peaks. A trama gira em torno do assassinato de Laura Palmer em uma pacata cidade dos Estados Unidos. O agente do FBI Dale Cooper é enviado para investigar, e a história rapidamente mergulha no lado mais sombrio das mentes humanas. Com três temporadas, Twin Peaks é uma experiência única e absolutamente imperdível.


Bom, é isso. Esses três filmes – Veludo Azul, Estrada Perdida e Cidade dos Sonhos – são o cartão de entrada ideal para o universo lynchiano. Se eles mexerem com você (e certamente irão), estará pronto para explorar Twin Peaks e o restante da obra de Lynch.


Mas, claro, esta lista reflete apenas meu ponto de vista como fã. O caminho que você escolher será exclusivamente seu. Boa sorte!


Um episódio do nosso podcast sobre o sentido dos filmes de David Lynch



LYNCH NAS ARTES PLÁSTICAS



Minha intenção não é aqui fazer uma biografia da vida de Lynch. Caso você tenha interesse, ele escreveu uma bela biografia chamada "Espaço para sonhar"e que eu, mesmo não sendo nenhum fã de biografias, admito ter gostado muito. Até porque talvez tenha sido a única que eu me dediquei a ler. A vida pessoal dos artistas não me interessam muito.


Lynch desenvolvia seus projetos em três principais linguagens nas artes plásticas: pintura; videoarte; grávura (litografias, para ser mais exato). Todos os seus trabalhos possuiam uma poética (escrevi um capítulo a parte falando sobre poética logo abaixo) semelhante, mesmo quando abordadadas em diferentes suportes artísticos.


São sempre imagens que conseguimos identificar sua forma. Se não reconhecemos a criatura, reconhecemos o ambiente. Ou vice-versa. Embora o artista afirmasse que não utilizava seus sonhos como disparador para suas criações, as imagens sã dignas de pesadelos, criando uma profunda relação com muitos observadores.



PINTURAS





LITOGRAVURAS



A litogravura é uma técnica de impressão artística desenvolvida no final do século XVIII, baseada no princípio da repulsão entre água e óleo. Ela é realizada em uma superfície plana, tradicionalmente uma pedra calcária, que serve como matriz para a criação da imagem.


No processo, o artista desenha diretamente sobre a pedra com materiais gordurosos, como lápis litográfico ou tinta oleosa. Em seguida, a superfície é tratada com uma solução química (geralmente ácido nítrico e goma arábica), que fixa as áreas desenhadas e torna as partes não desenhadas receptivas à água. Durante a impressão, a pedra é umedecida; as áreas sem desenho retêm a água, enquanto as áreas desenhadas repelem a água e aceitam a tinta gordurosa. Por fim, uma prensa litográfica é usada para transferir a imagem da pedra para o papel, criando a gravura.



O espelho é utilizado para verificar como a imagem irá ficar após o processo de impressão, já que o artista precisa desenvolver a imagem invertida sobre a matriz.
O espelho é utilizado para verificar como a imagem irá ficar após o processo de impressão, já que o artista precisa desenvolver a imagem invertida sobre a matriz.




VIDEOARTE


A videoarte é uma forma de expressão artística que utiliza o vídeo como meio principal, distinguindo-se do cinema tradicional e da televisão por sua intenção estética, experimental e conceitual. Ela surgiu na década de 1960, impulsionada pela democratização das tecnologias de gravação e edição de vídeo, e foi fortemente influenciada pelos movimentos artísticos de vanguarda. Separei as principais obras em videoarte que David Lynch criou:


Six Men Getting Sick (1967)



The Alphabet (1968)



The Grandmother (1970)



Dumbland (2002)


Rabbits (2002)



QUAL A POÉTICA DE DAVID LYNCH?


Antes de qualquer coisa, poética pode ser resumida como uma espécie de "tema" centralizador de um artista. Que assuntos ele aborda? Como ele os aborda? Quais instrumentos utiliza para manifestar suas intenções? Essa seria uma forma simples de definir alguns caminhos estéticos de um autor. Contudo, é importante destacar que inúmeras outras características podem contribuir para delinear essa poética. Ou melhor, infinitas.


Aristóteles define a poética como o estudo da mimese (imitação). Ele argumenta que as artes imitam a vida — seja por meio das ações humanas, das emoções ou das ideias — e que essa imitação possui um propósito educacional e catártico. No caso da tragédia, por exemplo, ele descreve como ela desperta emoções como compaixão e medo, resultando na catarse: um alívio emocional ou purificação.


Jacques Rancière aborda a poética de maneira bastante distinta da tradição aristotélica. Em suas obras, ele não se concentra em uma definição técnica ou normativa da poética, mas explora o conceito dentro de sua ideia mais ampla de "partilha do sensível" (partage du sensible). Para Rancière, a poética está ligada à forma como as experiências sensíveis são organizadas, distribuídas e tornadas visíveis ou invisíveis na sociedade.


E David Lynch? Como definir sua poética?

Esse é um trabalho árduo, como seria diante de qualquer artista com uma longa carreira.


Lynch explora o que não é observável a olho nu. Diante das relações, dos sofrimentos, dos desejos, ele busca sempre uma imagem, uma situação, um som, um diálogo que expresse o que está por trás do véu das formalidades.


O grande estranhamento que podemos sentir diante de uma cena de seus filmes decorre justamente do fato de nos depararmos com algo que não deveria estar ali, exposto. São revelações do inconsciente, de nossas sobras, daquilo que muitas vezes nos envergonha.


Por isso, é quase impossível encontrar vestígios de felicidade em sua obra. Embora muitas situações evoquem o riso, o alívio cômico quase nunca acontece, pois quase sempre é tragicômico.


 

Caetano Grippo (@caetano.grippo) é cineasta, escritor, artista plástico e coordenador do Espaço Rasgo. Formado pela Academia Internacional de Cinema e pela Belas Artes, acumula quase duas décadas de experiência como artista multidisciplinar.



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