Ruptura: o final da segunda temporada.
- Caetano Grippo
- 21 de mar.
- 2 min de leitura
Quando a segunda temporada de Ruptura estreou, fiz um vídeo compartilhando minhas expectativas. Nele, destaquei dois pontos centrais:
a alegoria principal giraria em torno do uso de medicamentos, simbolizando uma sociedade incapaz de enfrentar as dores da vida e que se refugia em diversas formas de anestesia. Esse seria o diálogo central com o nosso tempo.
os números exibidos na tela do computador de Mark representariam os sentimentos, sugerindo um processo de transformação das emoções em racionalidade. Afinal, esse seria o papel do trabalho: organizar, segmentar e classificar os sentimentos em pequenos setores numerados.
Por que retomar esse assunto agora que a série terminou? Porque, após dez longos e arrastados episódios, repletos de “simbologias” (Jung deve estar se revirando no túmulo sempre que alguém afirma que a série trabalha com símbolos) e pistas criadas apenas para manter o público fisgado, as únicas duas questões que realmente receberam resposta foram justamente essas:
os lunáticos da Lumon buscavam nada além de uma existência completamente desprovida de sentimentos, dores e passado. Esse era o Cold Harbor. O objetivo era fazer com que Gemma se dissociasse do trauma de não ter conseguido ter um filho com Mark, desmontando o berço do filho que nunca nasceu, sem sentir nada, para atingir esse estado final.
Cobel reforça a ideia da racionalidade na cena dentro do chalé: os números correspondem aos sentimentos de Gemma, representando as experiências que tentavam conter seus humores e lembranças.
E o restante?
O resto importa muito pouco.
Nada mais estava realmente vinculado à trama principal. Todas as pistas, sugestões e “simbologias” não agregaram nada à narrativa de Mark S. e Helly R., os personagens que, de fato, importavam.
No fim, tudo não passou de um jogo infantil, uma caça ao tesouro criada para manter o público entretido, cujo “prêmio” foi apenas a confirmação das respostas que já estavam ali apresentadas pela própria estrutura da trama. (Uma terceira temporada para explicar o que ainda ficou no ar? Meu Deus...)
Sou uma alma velha. Sei disso. Acredito que histórias devem ser motores de algo mais profundo em nossa experiência enquanto seres humanos. Ruptura tinha potencial para atingir esse patamar. Bastaria ter tido cinco episódios a menos e alguém achando que estava arrasando nos "estranhamentos"... (David Lynch mandou um beijo.)
Que pena.
Caetano Grippo (@caetano.grippo) é cineasta, escritor, artista plástico e coordenador do Espaço Rasgo. Formado pela Academia Internacional de Cinema e pela Belas Artes, acumula quase duas décadas de experiência como artista multidisciplinar.
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