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A Chegada - compreendendo a potência da linguagem

Foto do escritor: Caetano GrippoCaetano Grippo


Todas as vezes que revisito o filme A Chegada - e não são poucas - me deparado com um questionamento que sei que não é novo. Essa nossa condição como espécie, o fato de estarmos presos ao nosso código linguístico, é fonte de exploração para diversos artistas, não apenas no cinema, mas também em muitas outras linguagens. Porém, não consigo me lembrar de uma narrativa que traduza tudo isso de maneira tão particular, através da experiência vivida pela protagonista desse filme. Como assim?


(contém spoiler)


Estamos diante de uma história contada sob o ponto de vista da linguista Louise Banks. Com a chegada de 12 naves extraterrestres ao redor do mundo ela é procurada pelos militares para tentar alguma comunicação com esses seres. Durante essa aproximação e contato com a linguagem alienígena, que muito lembra os desenhos zens japoneses chamados ‘enso’, a linguista começa a desenvolver uma percepção distinta. Sua experiência sensorial com o presente se altera e ela percebe que é justamente essa nova linguagem - a ferramenta - que os alienígenas vieram trazer aos humanos, com o objetivo de melhorar sua comunicação entre os povos.


O que vejo como potência desse filme é justamente a posição que ele nos coloca como espectadores, através de uma narrativa que apenas aparenta ser circular. Na realidade, a forma como os eventos nos são apresentados revelam que o passado e o futuro estão caminhando em paralelo, e que atuam e funcionam justamente como a linguagem dos alienígenas.



Acredito que existam ferramentas muito próximas a essa, ferramentas que nos ajudem a encontrar outras formas de experienciar a vida e o tempo. O que seria de nós se nos comunicássemos através da justaposição de imagens, como os Kanji, ou até mesmo se aprimorássemos a justaposição das imagens cinematográficas? A Chegada é um filme sobre percepção, mas é principalmente uma narrativa sobre as nossas limitações diante do desconhecido.


AUTOR: Caetano Grippo é cineasta, artista plástico e professor. No Espaço Rasgo, além de coordenador é idealizador e professor dos cursos de narrativas, fotografia e direção.



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