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Breve reflexão sobre o filme Oppenheimer

Atualizado: 11 de mar.




Quando o seu trabalho é construir discursos, o seu entendimento do que a palavra ou a imagem produzem se aprimora. Um filme ou uma história não se limitam as palavras que saem da boca de um determinado personagem. Uma obra tem diversas camadas e muitas dessas camadas operam em silêncio. Ou seja, há uma série de ideias que parecem dizer uma coisa, mas que sua estrutura diz outra. Chamamos isso de ideologia. É nesse lugar silencioso, inconsciente, que ela opera e educa um espectador mais desatento. Sim, educar é a palavra. 



Sempre digo e sempre vou dizer: a natureza essencial do cinema é o mimetismo. O copiar. A imitação. Quanto menos atento estamos, quanto menos aberto a interpelações ficamos, é nesse lugar que a ideologia de uma obra se expressa e nos transforma, sem que percebamos o que está acontecendo.


Oppenheimer é a mais pura propaganda de guerra que hollywood sempre produziu. A história dessa indústria é marcada pelo desejo de se apropriar de mercados para, antes do lucro, estimular a proliferação da suas ideias silenciosas. Basta você ver as dívidas perdoadas durante a Segunda Guerra Mundial em troca de acesso ao mercado de entretenimento em países europeus, principalmente na França.


Isso é entendimento fundamental de comunicação de massas e de ciências politicas: cria-se um espetáculo de imagens, um show de luzes e sons intermináveis, sem nenhuma pausa. Na trama, um herói que desenvolve a arma mais brutal. Somos reféns de um ritmo frenético onde não temos tempo para pensar, entender o que se discute. A trilha preenche os espaços vazios. A estrutura do filme é feita para isso: estimular os sentidos enquanto apresenta um grupo de pessoas articulando e justificando um extermínio. E não fazemos parte do filme. Não precisamos resolver nada intelectualmente. E se não temos as ferramentas de análise para desmontar a arquitetura do filme, a propaganda cumpre o seu papel. E ai, é tarde demais. Estamos anestesiados e acalentados por não vermos o verdadeiro horror do que foram esses ataques e a ideologia se torna latente. O filme é uma grande justificativa. 




O acesso irrestrito ao mercado de entretenimento na França dominou os cinemas com a ideologia americana. Como resposta, um grupo de intelectuais criou a Nouvelle Vague, um movimento que ousava enfrentar essa hegemonia. E da Nouvelle Vague, um filme que é a voz de quem foi o alvo do heroísmo estadunidense surge, narrando a versão dos civis massacrados pelo cinema de tantos como o de Christopher Nolan. 


Hiroshima, Mon Amour



***


Caetano Grippo é cineasta, artista plástico e educador.





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