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Foto do escritorCaetano Grippo

Um breve comentário sobre o filme Sorria (2022)


Os filmes de terror possuem diversas variações dentro do gênero. Uma que eu inventei para designar um certo filme de terror se chama "trem fantasma". São os filmes barulhentos que a cada corte na sua montagem, um som estridente marca a mudança de plano ou da cena. A tensão raramente existe na cena em si. A tensão está sempre atrelada a algum movimento de câmera exuberante, complexo de ser executado e a barulhos. Barulhos, barulhos barulhos. E para não esquecer: ruídos.


E a história?


Geralmente esse tipo de filme está atrelado a uma outra característica: o uso de algum elemento fantástico muito surpreendente no âmbito estético. Como assim? É criado algo visualmente muito forte que chama a atenção do espectador e o filme todo tenta se construir sobre esse artifício visual. O filme Sorria não é o único. Existem vários filmes que apostam todo o marketing nessas premissas simples. No caso deste filme eles criam a imagem de pessoas com um sorriso diabólico, assustador, que gera um grande mal estar na gente. E o filme é feliz ao construir essa imagem. Há realmente algo de muito assustador nessa imagem.

Mas e a história?


Este é o ponto. O filme é simplesmente um trem fantasma cheio de sustos e barulhos. Nada mais acontece ali.E o filme teria uma premissa muito interessante para explorar sobre esse sorriso diabólico, o colocando em comparação com a protagonista que desde o início não consegue nem ao menos trazer um esboço de sorriso. O filme está preocupado demais em movimentos de câmeras surpreendentes, angulações estranhas e preocupado de menos em contar uma história que possa ir um pouco mais além da superfície. Sem contar o casal que não tem nenhuma química, já que não temos nenhuma cena que explore um pouco da intimidade entre eles.


Nós estamos vivendo um inferno da mesmice. Um inferno do igual. Todos os filmes apresentam uma estrutura simplória, com cenas sem conteúdo. Nada além da narrativa básica que conduz a história para frente no quesito do tempo, esquecendo de avançar a narrativa na sua profundidade psíquica, social, emocional, filosófica, etc. Os filmes não correm mais riscos para tentarem criar efeitos e sensações diferentes nos espectadores. Basta o susto e nada mais.


Obviamente temos exceções e filmes que trazem novidades em diversas esferas da nossa inteligência. Mas acredito que vivemos uma crise brutal de imaginação quando falamos de narrativas. Se existe "o perigo da história única" que a Chimamanda Ngozie Adichie nos alerta, eu reforço sobre o perigo das histórias vazias, onde cotidianamente a gente defende uma série de narrativas que não carregam nada a não ser espetacularização estética e falamos de boca cheia: ah, mas é só entretenimento.


Sinto informar, mas esses vazios narrativos costumam ser preenchidos pelo que há de pior.





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