Sun Yuan e Peng Yu são um renomado duo de artistas contemporâneos chineses conhecidos por suas obras provocativas e inovadoras que exploram temas complexos como a interseção entre tecnologia, sociedade, política e ética. Sua colaboração artística tem desafiado fronteiras e agitado discussões em todo o mundo.
Sun Yuan nasceu em Pequim na China, e estudou pintura na Universidade de Belas Artes de Beijing. Antes de formar a parceria com Peng Yu, Sun Yuan trabalhou como designer gráfico e ilustrador. Sua experiência em comunicação visual se tornaria um elemento crucial em suas obras posteriores, onde ele frequentemente utiliza mídias mistas e tecnologia para criar impacto visual e conceitual.
Peng Yu, também natural de Beijing, estudou pintura a óleo na Universidade de Belas Artes de Beijing, onde ela eventualmente conheceu Sun Yuan. Sua colaboração como artistas começou durante seus anos de estudo, quando eles exploraram a combinação de diferentes abordagens artísticas e mídias.
Foi na efervescência cultural da década de 90 da China que a dupla começou a se destacar, ao expressar sua singularidade através de provocações em suas obras. Indo pelo lado oposto do que era feito na época, os artistas trabalhavam com taxidermia, maquinários e outros elementos provocativos. Sun Yuan e Peng Yu se uniram como um duo criativo em meados dos anos 2000. Eles se tornaram conhecidos por suas instalações interativas que frequentemente empregam tecnologias avançadas, materiais inusitados e comentários sociais afiados. Suas obras desafiam expectativas e muitas vezes provocam reações fortes por parte do público.
Desde então, ambos vêm incorporando elementos não usuais em suas obras de arte, abordando temas políticos e sociais através da junção do orgânico com o tecnológico. Conhecidos por suas grandes instalações, questionam conceitos atuais de Estado, território e até mesmo de democracia.
Sun Yuan e Peng Yu continuam a desafiar os limites da arte contemporânea, empurrando as fronteiras do que é aceitável, ético e significativo. Suas obras exploram a complexidade das relações humanas, a interação entre humanos e máquinas e as dinâmicas sociais e políticas em constante mudança. Ao fazer isso, eles estimulam conversas críticas e respostas emocionais, contribuindo para o desenvolvimento da cena artística global. Suas criações continuam a inspirar, chocar e questionar, deixando um impacto duradouro no mundo da arte.
“Freedom” (2009) é uma de suas obras mais populares. Formada por uma mangueira gigante, a instalação consiste no aparelho suspenso em meio a uma caixa que contém apenas alguns buracos, onde é possível assistí-la trabalhando. Conectada com um botão, a máquina libera constantemente água, fazendo-a perder controle devido a pressão da água nas paredes e no chão. A partir dessa instalação, eles criticam a tão chamada “liberdade”, que na verdade existe forma, tamanho e condições - a mangueira solta a água como quer, mas é impedida de liberá-la para qualquer lugar, devido ao cubo que a cerca.
Em “Can’t Help Myself” (2016) Sun Yuan e Peng Yu instalaram uma máquina industrial em meio a uma grande caixa transparente, onde é possível vê-la trabalhando. A máquina tem uma função: conter um líquido vermelho em apenas uma área, sem deixar que ele se espalhe. Quando os sensores percebem que o líquido escorreu até longe, o braço da máquina trabalha freneticamente para trazê-lo de volta e “limpar” a área, mas os movimentos rápidos deixam poças no caminho e respingam o líquido nas paredes.
A ideia de usar uma máquina surgiu do desejo dos artistas de testar e imaginar o que poderia substituir o trabalho de um artista. Assim, com ajuda de dois engenheiros mecânicos, eles modificaram o braço de um robô, que geralmente faz parte de fábricas de carros, para fazer 32 tipos de movimento. Para quem vê, a máquina parece ganhar consciência. O espectador, em uma posição voyeur, analisa seus movimentos e trabalho constante, o que leva ao questionamento: quem é mais vulnerável, o homem que construiu a máquina ou a máquina que é observada pelo homem?
"Can’t Help Myself" convida o espectador a refletir sobre a natureza das ações humanas, a influência da tecnologia em nossas vidas e a complexa relação entre criação e destruição. A obra ressoa com as preocupações contemporâneas sobre o avanço da automação e a interação cada vez mais intensa entre humanos e máquinas, provocando discussões sobre o equilíbrio entre controle e autonomia. Mas no contemporâneo, a leitura sempre está muito mais aberta do que essa que proponho.
Outra dimensão importante da obra está relacionada à interação entre seres humanos e máquinas na sociedade contemporânea. O comportamento dos robôs reflete a maneira como a tecnologia muitas vezes age de forma autônoma, seguindo programações e algoritmos sem considerar as consequências ou os impactos mais amplos.
“Nós vemos como o robô e o líquido torturam um ao outro”, diz Sun Yung. Com o movimento que nunca para, os artistas criticam a noção de liberdade em meio a uma sociedade que exige sacrifício para o trabalho, ao apontar a violência que o Estado e o sistema mundial atual impõe, de forma autoritária, além de questionar a vigilância.
Sun Yung conta “eu gosto de ação, cor, ecologia”. A partir desses ideais, a dupla junta elementos encontrados na natureza e os coloca em cenários experimentais e controlados, a fim de testar o que acontece e analisar como esse hibridismo se relaciona. Com isso, Sun Yung e Peng Yu tornam-se uma importante dupla da arte contemporânea, que testa os limites da arte e provoca os espectadores ao criar intrigantes instalações, com profundos significados.
Obras Notáveis
"Angel" (2008): Uma das primeiras obras em que a colaboração de Sun Yuan e Peng Yu ganhou reconhecimento internacional, "Angel" apresenta uma figura humana, aparentemente alada e celestial. No entanto, a figura está conectada a um sistema complexo de motores, cabos e tubos que a fazem contorcer-se de maneira angustiante, desmitificando a imagem idealizada de um anjo.
"Old People’s Home" (2007): Esta instalação apresentava esculturas realistas de idosos nus, cada um exibindo detalhes viscerais e marcas de envelhecimento. A obra confronta a sociedade contemporânea com sua aversão à morte e ao envelhecimento, desafiando tabus culturais e pessoais.
"Dear" (2015): Nesta instalação, um robô industrial é programado para escrever repetidamente a frase "I am very sorry, but I can't answer you for the time being" (Sinto muito, mas não posso responder a você no momento). A obra levanta questões sobre a comunicação, a dependência da tecnologia e a alienação na era digital.
"Hong Kong Intervention" (2019): Esta instalação causou um grande impacto na Bienal de Veneza de 2019. Os artistas usaram uma máquina industrial para esmagar tijolos de protesto coletados das ruas de Hong Kong, transformando a agitação política e social da cidade em uma obra de arte densa de significado político.
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